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Este minicurso propõe uma análise crítica da organização social do cuidado a partir dos discursos que naturalizam sua prática como responsabilidade feminina e negra, invisibilizando as determinações históricas que subordinam mulheres negras a esse lugar social. Partindo do materialismo histórico-dialético (Marx, 2017; Lukács, 2012; Netto, 2011), do feminismo marxista (Federici, 2017; Vogel, 2013; Bhattacharya, 2017) e do pensamento feminista negro (Davis, 1981; Gonzalez, 1984; Collins, 2019), discute-se o cuidado como atividade reprodutiva essencial à acumulação capitalista, marcada por exploração, desvalorização e informalidade.
A interseccionalidade é aqui mobilizada em sua vertente crítica, ancorada nas experiências de resistência das mulheres negras e articulada à noção de consubstancialidade (Saffioti, 2004), a qual compreende gênero, raça e classe como categorias estruturantes, co-constitutivas e historicamente determinadas no interior da sociabilidade capitalista. Sob o horizonte do materialismo histórico-dialético, rejeita-se o tratamento fragmentado ou aditivo dessas opressões, em favor de uma leitura totalizante das formas de dominação e exploração que atravessam o trabalho de cuidado.
O minicurso também debate os discursos hegemônicos que operam pela moralização do cuidado, pela culpabilização das famílias e pela negação da responsabilidade do Estado, reafirmando o modelo familista de proteção social e os limites da democracia liberal. Será ainda problematizado o mito da democracia racial (Fernandes, 2021; Munanga, 2004), que sustenta a ideia de igualdade formal enquanto naturaliza a sobrecarga das mulheres negras no trabalho de cuidado.
Ao longo da atividade, propõe-se compreender o cuidado como categoria estratégica da crítica da reprodução social e como campo de disputa política, onde se articulam resistências, saberes insurgentes e projetos de transformação social. A proposta se alinha à luta por uma democracia radicalmente antirracista, antipatriarcal e anticapitalista, afirmando a centralidade das mulheres negras como sujeitas históricas da reprodução da vida e da resistência cotidiana.

Cuidado, Mulheres Negras, Trabalho Reprodutivo, Divisão sexual e racial do trabalho, Racismo

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