Raízes Negras Regionais
Você sabia que a região de Franca é berço e palco da trajetória de algumas das personalidades negras mais influentes do Brasil? Destacamos aqui cinco importantes figuras do ativismo negro que conectam a cidade ao legado ancestral africano e à construção de um futuro antirracista.

reprodução por inteligência artificial
Manoel Valim
Personalidade marcante da história francana, Manoel Valim foi escravizado pelo fazendeiro Joaquim Gonçalves Valim. Após a Abolição da Escravidão, em 1888, conquistou sua liberdade e comprou uma chácara, onde passou a produzir galinhas e rapadura. Movido por sua fé e em cumprimento a uma promessa feita à Nossa Senhora Aparecida, Manoel cedeu parte de suas terras, mobilizou doações e, em 2 de fevereiro de 1910, inaugurou uma capelinha em sua propriedade. Esse espaço deu origem à atual Paróquia Nossa Senhora Aparecida de Franca, importante ponto de devoção na cidade. Mais de um século depois, em novembro de 2022, sua trajetória de resistência e superação foi reconhecida com a inauguração de um busto em sua homenagem na Casa da Cultura de Franca, durante as celebrações do Mês da Consciência Negra.
Fonte: Pop Mundi <https://xurl.ooo/brbk0>
Abdias Nascimento
Ator, poeta, professor, artista, político, ativista. Abdias Nascimento foi tudo isso — e mais. Nascido em Franca, filho de um sapateiro e de uma doceira, sua trajetória é símbolo de luta, arte e resistência. Estudou no Ateneu Francano, formou-se contador e mais tarde economista pela UFRJ. Participou da Frente Negra Brasileira e, em 1944, fundou o Teatro Experimental do Negro, abrindo espaço nos palcos para artistas negros num país onde o racismo os silenciava. Exilado nos EUA durante a ditadura, lecionou em universidades renomadas e também atuou na Nigéria. Com a redemocratização, voltou ao Brasil e fundou o IPEAFRO, além de ser uma das vozes fundamentais na criação do Movimento Negro Unificado. Foi deputado federal e senador, sempre defendendo políticas públicas afirmativas. Abdias faleceu em 2011, aos 97 anos, mas seu legado segue inspirando a luta pela libertação negra no país.
Fonte: literafro - O portal da literatura Afro-Brasileira (UFMG)


Antes de se tornar uma das maiores vozes da literatura brasileira, Carolina Maria de Jesus passou por Franca. Nascida em 1914, em Sacramento (MG), chegou à cidade em 1930, onde trabalhou como diarista por sete anos. Foi aqui que ela começou a moldar o olhar atento e sensível que mais tarde transformaria sua dura vivência em palavras potentes. Após a morte da mãe, mudou-se sozinha para São Paulo. Catadora de recicláveis, fazia da escrita seu refúgio. Com cadernos encontrados no lixo, começou a registrar o cotidiano da favela, dando voz ao que muitos ignoravam. Em 1960, publicou Quarto de Despejo, um sucesso imediato traduzido para mais de 10 idiomas. Em Franca, afiou as lâminas de uma escrita real e transformadora — que reverbera até hoje.
Fonte: literafro - O portal da literatura Afro-Brasileira (UFMG)

Carlos de Assumpção
Nascido em Tietê (SP) em 1927, Carlos de Assumpção fez de Franca sua morada, lugar de resistência e criação poética. Advogado por formação, foi na poesia que ele encontrou seu verdadeiro chamado. Hoje, é considerado um dos maiores nomes da literatura afro-brasileira e um símbolo da luta negra no país. Sua escrita, precursora do rap e do slam, carrega a força da oralidade africana e se conecta com as vozes da diáspora. Em seus versos, ecoam as dores e a potência de ser negro em uma sociedade marcada por séculos de escravidão. O poema Protesto, premiado e traduzido para vários idiomas, virou hino de gerações e referência nas antologias do gênero. Entre suas obras estão Quilombo (2000), Tambores da Noite (2009) e Não Pararei de Gritar (2020), esta última publicada pela Companhia das Letras. Uma trajetória que segue gritando por justiça, memória e liberdade.
Fonte: literafro - O portal da literatura Afro-Brasileira (UFMG)
Isa do Rosário
Isa do Rosário é uma multiartista natural de Batatais, atualmente radicada em Franca (SP). Sua produção artística transita com sensibilidade entre bordados, poesia e arte contemporânea, entrelaçando técnicas e narrativas que resgatam as raízes e memórias do povo negro brasileiro. Além de artista, Isa é cozinheira, contadora de histórias, bordadeira, rezadeira e uma voz ativa no movimento negro da região. Seu trabalho se destaca por promover encontros potentes de valorização cultural, preservação das tradições afro-brasileiras e defesa da igualdade racial. Por meio do bordado e do trabalho têxtil, Isa aborda temas ligados à história e à memória afro-brasileira. Sua instalação “Dança com a morte no Atlântico” (2014–2023), exibida na Bienal de Liverpool em 2023, é um exemplo impactante dessa abordagem. A obra representa a travessia forçada de milhares de africanos escravizados pelo Oceano Atlântico, utilizando pintura sobre tecido e bonecas abayomis — confeccionadas com retalhos de pano, sem costura nem cola, em uma técnica ancestral de resistência e afeto.
