Neste minicurso, convidamos a desatar os nós das epistemes coloniais que, mesmo sob o rótulo da “decolonialidade”, insistem em ecoar as vozes de sempre, com os mesmos autores, as mesmas chaves conceituais, as mesmas urgências mercadológicas. Entre 2020 e 2025, uma avalanche de publicações acadêmicas prometeu descolonizar saberes. No entanto, muitas vezes o que se viu foi a repetição ornamental de nomes consagrados do grupo Modernidade/Colonialidade, numa dança segura que pouco arrisca e quase nada transforma. Seguindo as palavras de Tuck e Yang (2012) para quem "descolonizar não é uma metáfora", este minicurso propõe, portanto, uma parada estratégica — e crítica. Vamos respirar, reler, desconfiar, e fazer da análise uma arma suave e afiada. Trabalharemos com números concretos de revistas acadêmicas, realizando leituras coletivas de textos que se propuseram decoloniais. Questionaremos: quem está falando? Quem está sendo silenciado? Onde estão os corpos dissidentes, os saberes das margens, os epistemicídios interrompidos? Que tipo de mundo essas escritas tentam construir ou preservar? Nosso percurso será dividido em dois momentos: no primeiro, teórico-crítico, discutiremos os limites e armadilhas do uso inflacionado e vazio da decolonialidade, especialmente quando divorciada das realidades locais e de compromissos éticos com o Sul Global. No segundo, colocaremos as mãos no texto: em grupo, realizaremos uma análise crítica de excertos selecionados, compreendendo que a teoria se tece no gesto e que a crítica se encarna na leitura coletiva. Voltado a estudantes, pesquisadores, professoras e militantes da linguagem e da educação, este minicurso é um chamado a descolonizar o que tem se feito passar por decolonial — sem rodeios, mas com ternura. Porque epistemologia também é gesto de cuidado. Porque justiça epistêmica começa na escolha de quem citamos.