A presente proposta de Grupo de Trabalho (GT) tem como finalidade reunir investigações, experiências e reflexões de caráter crítico e teórico sobre a construção histórica, midiática e institucional da figura do “inimigo racializado” enquanto estratégia de manutenção das estruturas de poder pelas elites e pelo Estado brasileiro. Trata-se de analisar, a partir de um enfoque interseccional, histórico e contra hegemônico, os dispositivos legais, políticos e discursivos que possibilitaram a consolidação de um projeto de nação pautado na exclusão e no controle dos corpos negros e indígenas. A produção do medo e da criminalização associada às populações racializadas não é um fenômeno aleatório, mas antes o resultado de um arcabouço normativo e institucional que legitimou práticas sistemáticas de violência simbólica e material. As narrativas críticas do sujeito racializado, aqui compreendidas como formas de resistência epistemológica e política, permitem desvelar a forma como o imaginário nacional foi estruturado a partir da negação das experiências afro-indígenas, especialmente no período pós-abolicionista. A construção da imagem da pessoa negra como ameaça à ordem social foi amplamente engendrada por meio de discursos oficiais, registros documentais, legislações e mídias de massa, que atuaram como instrumentos de racialização do inimigo interno. Conforme aponta Azevedo (2005), esse processo foi mobilizado de forma intencional pelas elites como justificativa para a implementação de políticas de embranquecimento, exclusão e marginalização sistemática, negando, assim, a centralidade da questão racial na conformação do Brasil moderno. A atuação do Estado, nesse contexto, foi basilar para consolidar uma estrutura social e jurídica que subalternizou a cidadania negra e indígena. Projetos como a promoção da imigração europeia e a omissão estatal diante das desigualdades raciais evidenciam um esforço contínuo de silenciamento e apagamento das identidades e experiências afro-indígenas do tecido social, movimento que evidencia a continuidade do racismo operado a partir de suas instituições e relações sociais, o que Santos (2022) denomina como racismo sistêmico. Destarte, a inscrição do ódio racial nas instituições e a perpetuação de uma cultura de impunidade frente à intolerância racial são resquícios de um projeto do “racismo como arma ideológica da dominação” (Moura, 2023, p. 61). Dessa forma, o GT propõe-se a discutir criticamente a categoria do “inimigo interno” como uma construção racializada, elucidando como a lógica do medo e do controle é operada na reprodução da violência racial contemporânea, incorporando as dimensões de gênero, raça, etnia, classe, território e gerações. Convidam-se contribuições que dialoguem com epistemologias afro-diaspóricas e indígenas, com críticas às teorias raciais clássicas e com contranarrativas que denunciem, provoquem intervenções e reconstruam os imaginários sociais historicamente colonizados. O objetivo é fomentar uma arena crítica de debate que valorize o saber situado e as vozes dissidentes, contribuindo para o desmonte das estruturas que sustentam o racismo sistêmico no Brasil. O público-alvo é de estudantes de graduação e pós-graduação das Ciências Humanas e Sociais, pesquisadores/as, profissionais da educação e integrantes de movimentos sociais.
Palavras-chave: Racismo sistêmico; Inimigo racializado; Banimento racial; Epistemologias negras e indígenas.


