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Nos últimos anos, o debate acerca das masculinidades negras tem ganhado diferentes espaços no Brasil, em áreas como a das Ciências Humanas e Sociais, das Artes e da Educação. Durante muito tempo houve um silenciamento das vivências específicas de homens negros, algo que corroborou para a perpetuação da masculinidade hegemônica, que se refere ao padrão “de práticas estéticas e éticas de masculinidade hierárquica dentro do conjunto de identidades e interações entre homens e mulheres, inseridos em uma lógica ética do patriarcado” (CUSTÓDIO, 2019, p. 132). Felizmente, esse contexto vem se modificando aos poucos, por um lado, através do debate público, muitos intermediados pelos movimentos sociais, pelos meios de comunicação e pelas produções culturais, e, por outro, pelo debate acadêmico, que resulta em significativas publicações científicas. De acordo com Túlio Custódio (2019), em relação ao debate público, ele vem sendo pautado por dois eixos: o genocídio do homem negro e práticas comportamentais do homem negro, a exemplo do comportamento afetivo e sexual desses homens em relação às mulheres, das práticas de abandono paterno e da responsabilidade afetiva de homens negros diante da família e dos filhos (CUSTÓDIO, 2019, p. 139). Já em relação ao debate acadêmico, observa-se um nítido interesse em identificar os elementos simbólicos e materiais que implicam na construção desses sujeitos. Nesse sentido, os trabalhos de intelectuais negras e dos movimentos feministas negros, foram fundamentais para, além de visibilizar as experiências das mulheres, que frequentemente são silenciadas ou marginalizadas na sociedade, também oportunizaram discutir questões que afetam os homens, a exemplo do patriarcado, que condiciona todos os homens a seguir padrões de comportamento estabelecidos pela “masculinidade hegemônica, independentemente de suas particularidades. Obviamente, há uma série de diferenças em como esse comportamento é vivenciado por cada grupo, são evidentes as diferentes possibilidades de experienciar a masculinidade, o que podem colocá-las para fora do perfil, sendo consequentemente nomeadas de “masculinidades subalternas ou subalternizadas” (CÉSAR, 2019, p. 72), a exemplo das masculinidades negras. No campo dos estudos literários, por exemplo, a partir do diálogo com a crítica pós-colonial e decolonial, com os estudos de gênero e com a teoria crítica da raça, intelectuais e escritores negros e negras têm propostos novas formas de narrar e analisar os sujeitos negros, respeitando suas vivências e complexidades. Historicamente, homens negros foram muitas vezes representados como hipersexualizados, violentos ou subalternos — construções que a literatura pode tanto reproduzir quanto contestar. Nesse sentido, a abordagem das masculinidades negras na literatura tem sido marcada, por um lado, por processos históricos de desumanização, estigmatização e, por outro, de resistência. Entretanto, esses estudos precisam ser ampliados e visibilizados de forma mais expressiva. Portanto, a proposta deste GT é reunir investigações sobre este tema e estimular o debate, a partir de um referencial teórico que contemple diferentes áreas do conhecimento, em uma perspectiva encruzilhada, já que para compreender as complexas dimensões da condição humana é necessário analisar inúmeras variáveis que incluem questões morais, políticas, ideológicas e culturais.

Palavras-chave: Masculinidades negras; Estudos Culturais; Educação; Decolonialidade.

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