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Este Grupo de Trabalho tem como objetivo reunir investigações teóricas, empíricas e militantes que problematizem a organização social do cuidado no Brasil e na América Latina, a partir da crítica ao modo de produção capitalista e à persistência das opressões estruturais de gênero, raça e classe. Trata-se de uma proposta profundamente sintonizada com os debates que atravessam o VI Colóquio Raça e Interseccionalidades, pois articula os eixos discurso, democracia, antirracismo e interseccionalidade de maneira indissociável.
Partindo da concepção de que o cuidado, em suas múltiplas expressões, como o trabalho doméstico, a maternagem, a atenção a pessoas idosas e com deficiência, é um elemento central da reprodução da vida e, portanto, da reprodução social do capital, este GT busca tensionar os discursos que o moralizam, naturalizam e o associam exclusivamente à responsabilidade das mulheres, especialmente das mulheres negras. Esses discursos operam ideologicamente para sustentar a omissão do Estado, a precarização das condições de trabalho e o reforço da divisão sexual e racial do trabalho.
A proposta se ancora no materialismo histórico-dialético (Marx, 2017; Lukács, 2012; Netto, 2011), no feminismo marxista (Federici, 2017; Vogel, 2013; Bhattacharya, 2017) e no pensamento feminista negro (Davis, 1981; Gonzalez, 1984; Collins, 2019) para compreender o cuidado como uma categoria estratégica da crítica da economia política. Nessa direção, o GT acolhe reflexões sobre a informalidade, o familismo, o racismo estrutural, a superexploração do trabalho reprodutivo e os limites das políticas públicas frente à realidade da reprodução social. A interseccionalidade é mobilizada em sua vertente crítica, ancorada nas experiências de resistência das mulheres negras, e articulada à noção de consubstancialidade (Saffioti, 2004), entendida como a inseparabilidade histórica e estrutural entre classe, raça e gênero. A proposta rejeita, portanto, abordagens fragmentadas ou aditivas das opressões, reafirmando uma leitura totalizante que evidencia como a divisão social, sexual e racial do trabalho sustenta a lógica de acumulação e a dominação nas formações sociais dependentes. Este GT é essencial ao Colóquio porque propõe deslocar o cuidado do campo da moral, da domesticidade e da carência individual, recolocando-o no centro do debate sobre democracia, justiça social e emancipação. Ao evidenciar como o Estado neoliberal se vale de discursos que culpabilizam as famílias, especialmente as mulheres negras, pela crise da reprodução social, o GT propõe analisar os impasses da democracia liberal e os limites das respostas institucionais às desigualdades estruturais. Ao mesmo tempo, busca valorizar os saberes insurgentes forjados nas práticas cotidianas de resistência, autocuidado coletivo e construção de redes de apoio solidárias, sobretudo em territórios periféricos e racializados. O GT acolherá trabalhos oriundos do Serviço Social, Sociologia, Ciência Política, Saúde Coletiva, Antropologia, Educação e áreas afins, que contribuam com a análise crítica das relações entre cuidado, opressões e lutas sociais. Ao reunir pesquisadoras/es comprometidas/os com uma produção de conhecimento contra-hegemônica, o GT visa também fortalecer vínculos entre universidade, movimentos sociais e trabalhadoras do cuidado, contribuindo com a construção de um projeto democrático radicalmente antirracista, antipatriarcal e anticapitalista, centrado na vida e não na lógica da acumulação.

Palavras-chave: Cuidado; Reprodução Social; América Latina; Capitalismo; Racismo.

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