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A literatura contemporânea e a filosofia latino-americanas são permeadas pela construção de uma identidade encruzilhada, baseada em memórias, ancestralidades, culturas, histórias, conflitos, liberdades, resistências, sobrevivências, revelando diferenças, semelhanças e conexões. Nesse contexto, podemos encontrar tanto obras literárias quanto filosóficas que tratam de experiências coloniais semelhantes e propõem estratégias para manterem vivas as memórias culturais das civilizações africanas e indígenas. São temas explorados por escritores como Jorge Amado, Jacques Roumain, Manuel Zapata Olivella, Manuel Cofiño, Mayra Santos-Febres, Dany Laferrière, Derek Walcott, Marysé Condé, Cristina Garcia, Ana Maria Gonçalves, Conceição Evaristo, Itamar Vieira Júnior, Eliana Cruz, Graça Graúna, Daniel Munduruku etc. Nessas produções literárias, temos a representação de paisagens afrocircinadas que apresentam o mundo em uma nova e complexa ordem cultural global. Esses temas também são encontrados de diferentes modos nas obras de filósofos como Lélia Gonzalez, Édouard Glissant, Aimé Césaire, Frantz Fanon, que denunciam a indiscernibilidade entre a política colonial hegemônica e a branquidade. Essa encruzilhada é, como afirma Lélia Gonzalez (1988), uma Améfrica, pois compartilhamos os mesmos dramas e encantamentos de nossa identidade e território na literatura e na filosofia. Com esse conceito de Améfrica e de Relação e Diversidade, de Édouard Glissant (2013), um modelo de reorganização social pode ser discutido com base afrocentrada. São obras que tratam da relação entre as memórias ancestrais a sua reelaboração na trajetória vivenciada pelo povo negro e indígena na América, já que o problema da ancestralidade e da sua reinvenção marcaram os povos originários, escravizados e seus descendentes no Novo Mundo. É por meio dessa encruzilhada amefricana que os negros e indígenas sobrevivem e incorporam as vozes de seus ancestrais para resistirem em contextos de profunda dor, nos quais a dignidade e a humanidade desses povos foram retiradas. Apresentando memórias ancestrais, por meio de enredos, circunstâncias, metáforas e personagens, que restituem a própria voz à comunidade afrodiaspórica e indígena, essas obras literárias apresentam o afrorrealismo (DUNCAN, 2019), corrente literária que capta a origem de uma literatura amefricana, com concepções próprias, símbolos, mitos e termos afrocentrados que não correspondem às definições canônicas, e o realismo animista (PENNA, 2021), estilo literário para contar (inventar) e recontar (reinventar), numa conciliação com a oralidade, os mitos da tradição ancestral, revelando uma percepção natural e cotidiana sobre toda a Vida, que contempla os diversos mundos entre o visível e invisível aos olhos humanos, favorecidos pelo processo da identidade encruzilhada, em que “toda identidade é um caminho circinado sendo percorrido em um imenso mosaico de encruzilhadas.’ (PENNA, 2024). De maneira simétrica, as obras filosóficas partem do reconhecimento do arcabouço cultural da experiência afrodiaspórica e indígenas como ferramentas críticas contra o apagamento, desenraizamento de populações, as desigualdades sociais e os racismos causados pelas experiências coloniais semelhantes na história. Esse Grupo de Trabalho pretende reunir trabalhos, em andamento ou concluídos, que se situem no território encruzilhado entre literatura e filosofia afro-latino-americanas, refletindo sobre como memórias ancestrais em identidade encruzilhada (PENNA, 2024) podem combater o pensamento hegemônico da branquidade.

Palavras-chave: Antirracismo; Amefricanidade; Identidade encruzilhada; Afrorrealismo; Realismo Animista.

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